quinta-feira, 1 de maio de 2008

A SUPOSTA CHATICE DA MORDOMIA CRISTÃ

Pela graça infinita de nosso Senhor Jesus Cristo, os crentes tornam-se filhos de Deus. Isso é indubitavelmente uma bênção. Ter filiação divina é gratificante já pelo "DNA", porque assim como os filhos herdam características de seus pais, os filhos de Deus herdam também algo de seu caráter. E sem contar a herança, porque assim como um pai esforça-se a fim de entesourar para os filhos, muito mais nosso Deus tem para nos dar em forma de dádivas.
Mas, que tipo de filho Deus quer que sejamos? Em todo tempo, somos estimulados nas Sagradas Escrituras a sermos filhos que servem, tal qual o Senhor Jesus que, sendo Deus, não usurpou-se disso; sendo filho não deixou de servir ao ponto de sacrificar sua própria vida. O Filho Unigênito de Deus encontrou tempo para lavar os pés de seus discípulos. O Primogênito de Toda a Criação não usa nem sequer um pouquinho de todo o seu poder em seu próprio favor. Toda a vida do Mestre foi dedicada ora ao ensino, ora à pregação ou ao auxílio de algum necessitado. E sem contar à oração, feita em sua maioria em favor de outros - função que Ele exerce até hoje - ou para nos servir de exemplo.
Assim deve agir um cristão. Anular sua própria vida em detrimento de benefícios alheios. Abrir mão de seus próprios recursos e vontades em prol de um bem comum. Sacrificar horas de lazer e descanso para: buscar o poder de Deus não para obter bênçãos, mas para se tornar uma "fonte de bênçãos"; buscar o conhecimento de Deus não para vanglória pessoal mas para que outros desfrutem da comunhão com o Pai e buscar o equilíbrio espiritual para que se tornar firme e constante, sempre abundante na Obra do Senhor.
Confesso a vocês que, às vezes, fica chato praticar a mordomia cristã, porque quanto mais você trabalhar, mais trabalho você terá. Quanto mais você ajudar as pessoas, mais pedidos de ajuda chegarão até você. E há um momento em nossa vida que nos sentimos espoliados, usurpados, "sugados". A falta de elogios, os abusos e as ingratidões enfraquecem o crente, de modo a deixá-lo franzino e sem ânimo para fazer algo. É como uma árvore, cujos galhos servem para que as aves se aninhem, cujas folhas servem como sombra para que muitos repousem e cujos frutos são o alimento de tantos. Todavia, nunca veremos alguém preocupado com o bem estar daquela árvore. Não param para observar a importância dela - ainda que desfrutem de tudo de bom que ela fornece. Não cuidam para que ela esteja sempre verde, forte e frutífera. Não há um gesto de carinho sequer.
No cristianismo do século XXI somos estimulados a não elogiar alguém para que ele "não se ensoberbeça", mas somos taxativos nas críticas quando algo sai mal. Ensinamos que os cristãos sempre devem responder "toda honra e glória pertencem ao SENHOR", mas não os ensinamos o quão importante é o nosso trabalho para Deus. Desdenhamos os trabalhos alheios: "se você não fizer, Deus coloca outro no seu lugar. Ninguém é insubstituível", mas esquecemos de que Deus tirou Paulo do seio do farisaísmo e o usou para fazer uma obra que nenhum outro em nenhum momento da história fez. Nem entre os 12 discípulos houve destaque maior do que o dele. E até hoje ninguém o sobrepujou.
Há uma mania no ser humano de só valorizar a obra de alguém depois de sua morte. E meu temor é que esta ingratidão alcance a maioria dos valorosos irmãos e irmãs contemporâneos a mim. Meu alento é que só torna-se vítima de ingratidão aquele que pratica o bem, porque se você não fizer nada por ninguém, não haverá motivo algum para que te sejam gratos. Entretanto, se a ingratidão é nossa parceira, é porque estamos fazendo coisas boas, só não estamos sendo reconhecidos por isso.
Minha tristeza não é pela falta de reconhecimento ao talento, ao dom, à fama, à habilidade. Minha tristeza é pela falta de reconhecimento ao trabalho, ao esforço, à dedicação, ao serviço. É como aquela esposa que passa o dia deixando o lar em ordem, cozinhando o melhor jantar e perfumando-se e aprontando-se para agradar o esposo que, ao chegar em casa, é incapaz de uma palavra de agradecimento ou elogio.
Assim tem vivido muitos cristãos. Ensinando sem o devido reconhecimento dos alunos, pastoreando sem o devido reconhecimento das ovelhas, evangelizando sem o devido reconhecimento dos ouvintes, trabalhando arduamente sem o devido reconhecimento dos que mais se beneficiam de seus esforços.
A esses eu digo: não parem, nem desanimem, porque o galardão do Senhor é pelas nossas obras, não pelos resultados alcançados! O reconhecimento humano é limitado e temporal, mas o Senhor prometeu que com Ele está a recompensa para cada um de nós.

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