domingo, 26 de outubro de 2008

MUDANÇAS NO FUTEBOL BRASILEIRO

Em 2003, o Campeonato Brasileiro passou a ser disputado por pontos corridos. Uma mudança aparentemente superficial, causou, em poucos anos, profundas mudanças na configuração futebolística nacional. E, ao longos dos anos, estas mudanças se acentuarão de tal modo, que o futebol brasileiro perderá a principal característica que o destacou nos últimos 30 anos: o equilíbrio entre os times.
No passado, a CBF organizava ou estimulava a organização de pequenos torneios de tiros curtos tais como Municipais, Estaduais, Rio-São Paulo, Nordestão, Sul-Minas, Copa do Brasil, Torneio dos Campeões e um sem número de taças de diversos nomes. Isso aumentava a chance de um clube sagrar-se campeão no ano, devido as muitas disputas das quais ele participava. Alguns clubes sem grande tradição nacional comemoravam títulos e até mesmo ganhavam o direito de representar o país em competições internacionais.
Um belo exemplo é o Paysandu, clube paraense cuja maior façanha foi ter derrotado o Boca Júniors em plena Bombonera. O clube foi campeão de um torneio da CBF e ganhou o direito de disputar a Libertadores da América do ano seguinte. Detalhe: o torneio foi disputado no Norte e Nordeste pelos clubes que haviam sido campeões de outros torneios da CBF, sendo o Paysandu um dos únicos representantes daquela região.
O campeonato brasileiro era apenas mais uma dessas inúmeras competições. Durava em média 5 meses e começava em forma de liga (pontos corridos) e terminava em forma de copa (mata-mata) onde os 8 primeiros colocados duelavam pela taça. Ele era disputado no segundo semestre, começando em agosto e terminando em dezembro. Enquantos os 8 clubes mais bem colocados travavam jogos de tensão e emoção, os outros 16 clubes (em média) limitavam-se a assisti-los, ficando por volta de 3 ou 4 meses inativos, acumulando dívidas e frustrando seus torcedores.
Por outro lado, no ano subsequente, os 16 clubes que não haviam se classificado para a fase de mata-mata do Brasileirão entravam com vantagem nas competições, pois gozavam de maior tempo para planejamento e preparo. Isso produzia um certo "rodízio de campeões". Confira a lista abaixo dos campeões nacionais de 1992 a 2002, último campeonato brasileiro deste formato que estamos tratando:
1992 - Flamengo
1993 - Palmeiras
1994 - Palmeiras
1995 - Botafogo
1996 - Grêmio
1997 - Vasco
1998 - Corinthians
1999 - Corinthians
2000 - Vasco
2001 - Atlético Paranaense
2002 - Santos
Como vemos, não havia uma elite nacional. Ou então, se havia, ela era bem abrangente, pois em 11 torneios disputados, houve 7 diferentes campeões. Mas, veio o campeonato de pontos corridos e acabaram-se os torneiozinhos caça-níqueis. Com isso, começa a surgir uma restrita elite do futebol brasileiro - clubes que começam a destacar-se dos demais. No passado, os 4 grandes do RJ e de SP, os dois grandes de MG e do RS e até mesmo os clubes da Bahia e do Paraná eram vistos como favoritos do Brasileirão, tamanho equilíbrio entre eles. Equilíbrio fomentado pelos pequenos torneios disputados antes do Brasileirão, os quais, pela fórmula de tiro curto, sempre reservava surpresas e zebras.
No meu próximo post, tratarei das configurações que, a meu ver, darão a tônica no futebol brasileiro do terceiro milênio.

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